Sunday, November 27, 2005

José

José ( Carlos Drummond de Andrade )

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Thursday, November 17, 2005

Leia-Me.






LEIA-ME





Como um livro bem cuidado,
Há muito tempo desejado,
Abra-me página a página;
Leia-me!
Decifre meus mistérios;
Como num romance rebuscado,
Todos os toques e carícias;
A muito guardado!
Leia-me!
Cada pagina uma fantasia;
Cada fantasia um desejo;
Cada desejo uma loucura;
A loucura do meu beijo!
Leia-me!
Como um cego que nada vê;
Mas que pelo tato tudo lê,
Seja meu corpo em suas mãos;
Um livro em Braile!
Leia-me!
Uma leitura minuciosa,
Mostrará-te meu conteúdo,
Envolverá-te com paixão e doçura,
Num enredo de sedução e fantasia!
Descobrirá enfim,
O prazer da entrega,
A magia do amor.
Leia-me!

Monday, November 14, 2005

De onde vem a calma

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Eu não vou mudar não, mesmo se for só, não vou ceder.
Deus vaid ar aval sim, o mal vai ter fim.
E no final assim calado eu sei que vou ser coroado rei de mim.


( Marcelo Camelo)








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Thursday, November 10, 2005

Eu escrevo.







Eu escrevo. Bota minhas idéias no papel. Assim elas ficam mais claras e mais fortes. E assim é mais fácil concretizar o que tenho em mente. E também ocorre uma grande possibilidade de mudar algo em alguem.






Juventude Ignorante





Adolescentes só sabem reclamar da merda que nosso país está.
Mas te garanto que quando chega a hora de se informar, eles preferem
ver qualquer besteirol americano do que ver um telejornal.

A classe média no Brasil está aumentando, mas com certeza a conscientização política
está diminuindo. Para um adolescente de 16 anos, falar que gosta de política.
É taxado logo como louco ou babaca tentandos finjir ser quem não é.

Brasileiros de merda. Não merecem nada mesmo.
Vão ouvir ForFun e ver The Oc. Que é o melhor que vocês fazem.
Se quiserem ler Diario da Princesa e achar que é bonito ser ignorante.
Estaram no caminho certo.








ANALFABETO POLÍTICO ( Bertold Brecht )

O pior analfabeto é o analfabeto político .

Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políticos .

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas .

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política .

Não sabe o Imbecil que de sua ignorância política nasce prostituta, o menor abandonado, o assaltante, o corrupto das empresas nacionais e multinacionais e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista e pilantra .




Tuesday, November 08, 2005

Nordeste para Severino

Severino era bonito quando jovem, depois, o tempo lhe trouxe o desgaste físico.

Morava no interior do Nordeste, vida simples e humilde.

Manteve o sonho de ir para o Rio de Janeiro, mesmo depois que o cunhado morreu tragicamente como traficante.

Severino Das Flores, assim chamado por sua admiração por plantas.

Outro fato não concretizado na vida de Severino, já que, onde morava a água não chegava e, as gotas que Deus mandava eram exclusivamente para matar a sede.

Severino era romântico e sempre desejou a casa cheia de filhos.

E teve, quatro que sobreviveram, outros três que morreram desnutridos e um que levou embora a paixão de Severino.

Era trabalhador, onde tinha trabalho, estava Severino.

O feijão para os filhos faltava às vezes, mas, desde cedo, os meninos aprenderam o trabalho duro.

Escola, só de ouvir falar.

Brincadeiras, só aos Domingos, quando Severino dava a ordem de descanso.

Cansado da vida dura, juntou dinheiro para vir para o Sudeste.

Cheio de sonhos, desembarcou em São Paulo.

Três meses depois, a fome atingia sua família.

Sem trabalho e sem moradia fixa, Severino se arrependia.

Mas, onde tinha trabalho, lá estava Severino.

E conseguiu emprego de ajudante no mercado Municipal.

Caixas pesadas, frutas podres que alimentavam.

Chegava no barraco muito cansado.

E a noite acabava, antes mesmo, de começar.

O primeiro salário Severino nunca esqueceu.

Depois, já não sabia se era seu salário que diminuía ou as coisas que aumentavam.

No Sudeste também faltou feijão.

Os meninos vendiam balas e chicletes nos sinais.

Assistiram pela primeira vez a transmissão de um programa na Tv.

Ironia do destino, não gostaram nada daquele aparelho:

- Lá dentro, pai, tem homens que mente, falou lá que ta tudo bem po povo brasileiro. - contava o mais velho deles. - Não quero ver mais essa tal televisão. Aqui, a gente passa fome, vejo nos sinais gente com medo da gente, algumas com pena da gente, que não pode ajudar as que podem pai, fecha o vidro do carro na cara da gente. Me chamaram de bandido outro dia, eu que nem sabia o que era bandido, se aquele menino que me ofereceu aquelas coisas pra vender não tivesse me falado, tinha ficado sem saber.

Queria me dar trabalho lá no morro, eu achei que não ia dar conta do serviço, deve ser difícil ser esse tal de aviãozinho. Preferi vender a balas e os chiclete, assim quando to com fome pai eu como umas pra passar. E o cara pai, acha que sou bobo, que vou acreditar que nóis ta numa boa, ta é nada. Vamo volta pro Nordeste pai, lá a gente sofre, mas, lá agente é gente. Eu agora sou bandido, o senhor é um coitado.

Saudade da Maria, do José, saudade do Severino das flores e do nosso barraco.

Quero voltar pro Nordeste, lá a gente não fica sabendo essas coisa, dá até pra sonhar de novo, pai.

Severino com lágrimas nos olhos respondeu ao filho, dando lhe gotas de esperança.

- Vamo volta pro Nordeste filho, lá o problema é falta d'água aqui falta coração, água a gente cava buraco e pode encontrá, coração filho, se nasceu sem ninguém vai colocá.