Severino era bonito quando jovem, depois, o tempo lhe trouxe o desgaste físico.
Morava no interior do Nordeste, vida simples e humilde.
Manteve o sonho de ir para o Rio de Janeiro, mesmo depois que o cunhado morreu tragicamente como traficante.
Severino Das Flores, assim chamado por sua admiração por plantas.
Outro fato não concretizado na vida de Severino, já que, onde morava a água não chegava e, as gotas que Deus mandava eram exclusivamente para matar a sede.
Severino era romântico e sempre desejou a casa cheia de filhos.
E teve, quatro que sobreviveram, outros três que morreram desnutridos e um que levou embora a paixão de Severino.
Era trabalhador, onde tinha trabalho, estava Severino.
O feijão para os filhos faltava às vezes, mas, desde cedo, os meninos aprenderam o trabalho duro.
Escola, só de ouvir falar.
Brincadeiras, só aos Domingos, quando Severino dava a ordem de descanso.
Cansado da vida dura, juntou dinheiro para vir para o Sudeste.
Cheio de sonhos, desembarcou em São Paulo.
Três meses depois, a fome atingia sua família.
Sem trabalho e sem moradia fixa, Severino se arrependia.
Mas, onde tinha trabalho, lá estava Severino.
E conseguiu emprego de ajudante no mercado Municipal.
Caixas pesadas, frutas podres que alimentavam.
Chegava no barraco muito cansado.
E a noite acabava, antes mesmo, de começar.
O primeiro salário Severino nunca esqueceu.
Depois, já não sabia se era seu salário que diminuía ou as coisas que aumentavam.
No Sudeste também faltou feijão.
Os meninos vendiam balas e chicletes nos sinais.
Assistiram pela primeira vez a transmissão de um programa na Tv.
Ironia do destino, não gostaram nada daquele aparelho:
- Lá dentro, pai, tem homens que mente, falou lá que ta tudo bem po povo brasileiro. - contava o mais velho deles. - Não quero ver mais essa tal televisão. Aqui, a gente passa fome, vejo nos sinais gente com medo da gente, algumas com pena da gente, que não pode ajudar as que podem pai, fecha o vidro do carro na cara da gente. Me chamaram de bandido outro dia, eu que nem sabia o que era bandido, se aquele menino que me ofereceu aquelas coisas pra vender não tivesse me falado, tinha ficado sem saber.
Queria me dar trabalho lá no morro, eu achei que não ia dar conta do serviço, deve ser difícil ser esse tal de aviãozinho. Preferi vender a balas e os chiclete, assim quando to com fome pai eu como umas pra passar. E o cara pai, acha que sou bobo, que vou acreditar que nóis ta numa boa, ta é nada. Vamo volta pro Nordeste pai, lá a gente sofre, mas, lá agente é gente. Eu agora sou bandido, o senhor é um coitado.
Saudade da Maria, do José, saudade do Severino das flores e do nosso barraco.
Quero voltar pro Nordeste, lá a gente não fica sabendo essas coisa, dá até pra sonhar de novo, pai.
Severino com lágrimas nos olhos respondeu ao filho, dando lhe gotas de esperança.
- Vamo volta pro Nordeste filho, lá o problema é falta d'água aqui falta coração, água a gente cava buraco e pode encontrá, coração filho, se nasceu sem ninguém vai colocá.